sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Alma em Retalhos

Por: Diego Queiroz

O esqueleto humano é a estrutura responsável por manter protegidos nossos órgão vitais. O cranio protege o encéfalo. As costelas por sua vez guardam o pulmão e o coração. Contudo, há em nós uma estrutura muito mais complexa a ser preservada, para ela não existe blindagem física, tudo está na mente, tudo está no coração: Ela é a alma. Dela exalam as emoções, sensações e sentimentos, a linha tênue entre a harmonia com Deus e a perdição dos sentidos. O Aurélio a define como “principio espiritual do homem”, mas ela também está no fim, na verdade está em tudo e em todos.

No hebraico “nephesh” ela é “vida”, no latim “animu” é “aquele que anima”. Em minha simples opinião é a essência sobreexcelente do ser imortal, ou seja, a alma não pode morrer.
Enquanto os ossos sustentam o corpo físico a alma sustenta a mente, - os cientistas discordam. - um mero ressentimento é capaz de envenená-la e pôr tudo a perder.


“Cortar em várias peças, talhar, fender de alto a baixo, ferir, matar a golpes.” São essas as principais definições que o dicionário associa ao termo RETALHAR. No que se refere aos instrumentos usados para tal ato encontramos os mais diversos: facas, tesouras, punhais, espadas, entre outros. Tantos artefatos, no entanto não são sequer capazes de ferir a alma, no sentido literal da palavra. O que seria então suficientemente poderoso para tocar no impalpável?
Palavras! Elas são mais cortantes que qualquer espada conhecida, mais intrigantes que a alotropia do carbono em diamante, mais poderosas que os reinos da antiguidade. Sim, somente as palavras retalham a alma.

O poder da palavra é a arma letal que já vem embutida em todo homem, ainda que seja menor órgão do corpo a língua incendeia uma floresta. As palavras são poderosas em todos os aspectos, erguem e derrubam reinos, salvam e levam vidas a perdição, libertam e aprisionam almas.
Tal como o diamante não pode ser riscado por nenhuma outra substância que não ele mesmo, a alma só pode ser “riscada” por outra alma, mas precisamente pelo que a outra alma diz. Nada retalha mais a alma que o seu igual.

Há uma grande confusão entre as palavras “retalhar” e “remendar”, muitos as consideram sinônimos, porém são opostas ainda que complementares.
Retalhar a alma é repartir, rasgar, dilacerar, causar feridas que uma vez abertas levam tempo para sarar – se sararem. Remendar por outro lado é reconstruir, costurar, unir o que foi despedaçado, curar.
O que interessa para nós neste momento é saber como transformar em remendos as partes desta alma retalhada, onde as experiências que resultaram em retalhos devem ser aproveitadas e os sentimentos acumulados não! Não há como reconstruir sem antes desconstruir e renovar votos, crenças, convicções, etc. Não se deve usar remendo novo em pano velho, porque o remendo novo cede sobre o velho e a rotura é maior.

Uma vez que as palavras rompem a alma também tem poder de fazê-la viver novamente, voltar a superfície e ser livre como a alma deve ser. Sofremos com as perdas, lutas, dores, frustrações e tudo isso retalha parte de nós, mas ninguém além de si mesmo é responsável pela continuidade de dilaceração da alma. Nós podemos impedir que a carnificina espiritual se prolongue e perpetue. Precisamos Gritar! Dizer não a morte por tabela e decidir quais rumos daremos para o futuro. Usar as palavras para gerar vida e vida com abundância de dias e de alegria. É tempo de juntar os retalhos e remendar a alma, reconstruir aquilo que foi devastado e ser leve, ser livre, ser feliz.


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